Suba a minha oração perante a vossa face como incenso, e as minhas mãos levantadas sejam como o sacrifício da tarde. {Salmos 141:2}

sábado, 13 de julho de 2013

A magia dos livros


Quando eu era pequena, vivia perdida no meio dos livros dos meus pais e primos. Antes mesmo de ser alfabetizada, eu já lia muito: explorava cada lombada, com suas letras brilhantes e de diferentes formatos; cada capa, preferindo, como é óbvio, as coloridas e cheias de desenhos... Descobria no desenho de cada letra um bichinho ou objeto, desenhando no vão de cada letra um coração. Outras vezes, simplesmente coloria-os, ou transformava-os em carinhas felizes. As letras eram meus brinquedos favoritos.

Certo dia, ganhei um livro que vinha com uma fita cassete. Foi uma revolução! Agora, mesmo que ninguém pudesse ler a história para mim, eu podia ouvi-la, e melhor: acompanhar com os meus olhos cada vez que o som ia passando pelas palavras. Foi assim, associando as figuras, os sons e as letras daquelas histórias, que eu aprendi a ler (com a ajuda da escola, é claro!). Daí para frente, nunca abandonei minhas amigas letrinhas e fui descobrindo diversos mundos e almas irmãs da minha por meio delas. Só depois de “grande” é que entendi, contudo, que não fui eu que nunca as abandonei. Elas é que possuem uma mágica, um segredo, que domina pessoas um pouco mais sensíveis. E essa magia não só nos prende, mas nos conduz entre os livros.

Quem nunca teve a estranha sensação de estar lendo o livro exato, no momento exato da sua vida? Eu, pelo menos, já; muitas vezes. E aquele livro que você leu quando criança e voltou às suas mãos na idade adulta, fazendo todo o significado? E naquele dia em que você foi buscar um livro na biblioteca e voltou com outro que, não se sabe por que, apareceu no seu caminho?

Tudo isso é fruto da ação misteriosa das letras. Este é um modo bem simplista de dizer o que na verdade é profundamente inefável, pois as letras, em si, não detêm poder algum. A energia que elas transmitem vem de muito longe... Primeiro, vem de um autor. Este autor escreve movido pelo quê? Provavelmente, nenhum escritor no mundo é capaz de explicar objetivamente a razão pela qual escreve; principalmente no momento em que se inspira. É a pergunta mais detestada pelos escritores: “como é o seu processo criativo?” É o mesmo que perguntar “como explicar o mistério?”.

Se o autor não consegue explicar a origem de sua criação, é provável que ela não resida nele. Onde, então? Será uma entidade que vagueia pelo universo, tomando posse de certos indivíduos? Serão diversas entidades? Será um tipo de inteligência que se manifesta apenas em algumas pessoas? Será o resultado de um treino que às vezes passa despercebido? Serão vozes de deuses que nos ditam o que escrever, sem que nos demos conta? Serão anjos? Serão demônios?

A História, a Crítica, a Arte, a Literatura... Estão todos buscando essas respostas. Houve tentativas científicas de se isolar a literariedade. Houve quem idolatrasse os Gênios literários. Houve quem dissesse que o poeta é um operário como qualquer outro. E a intuição continua aqui, nos fazendo amar aquela determinada união de palavras e nos convidando irresistivelmente a ler aquele livro na estante...



Renata Ribeiro

Um comentário:

  1. Amei o ler esse pequeno texto. Vejo o tamanho da graciosidade que é gostar de ler. Parabéns pelo texto!❤️��

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